Janeiro Branco, campanha de conscientização sobre o cuidado com a saúde mental, promove relevantes reflexões à sociedade. Hoje, vamos abordar a importância do bem-estar emocional na fase de transição entre a adolescência e a vida adulta.
A juventude é marcada por profundas transformações que envolvem aspectos biológicos, psicológicos e sociais. É considerada um momento único, complexo e formativo. No período da adolescência, que vai dos 10 aos 19 anos, são observadas mudanças físicas, emocionais e sociais, que influenciam o comportamento.
Os fatores determinantes na saúde mental de adolescentes e jovens são variados. Assim, quanto maior for o nível de exposição a situações de risco, elevadas serão as chances de danos ao bem-estar emocional.
São exemplos de aspectos de riscos à saúde mental: as situações estressoras percebidas durante as transformações comportamentais, o desejo por alcançar maior autonomia, a pressão para ser aceito em grupos sociais, a percepção adquirida sobre a identidade sexual e os efeitos produzidos pelo uso exagerado de tecnologias.
É importante ressaltar que muitos jovens possuem maior risco de exposição a problemas de saúde mental por conta das condições de vida, dos estigmas, da discriminação, assim como pela falta de serviços e tratamentos adequados.
Conforme o relatório “Situação Mundial da Infância 2021. Na minha mente: promovendo, protegendo e cuidando da saúde mental das crianças”, organizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), um em cada sete jovens entre 10 e 19 anos possui diagnóstico de transtornos emocionais, como ansiedade, depressão e problemas comportamentais. Diante de tais dados, é possível observar que as alterações comportamentais produzidas nessa fase da vida podem gerar dilemas que exigem uma atenção maior de toda a sociedade.
Segundo dados publicados pelo Ministério da Saúde, em setembro de 2021, no boletim epidemiológico n.º 33, entre 2010 e 2019, 112,2 mil mortes por suicídios foram registradas no Brasil. Observou-se o aumento das taxas de suicídios entre adolescentes e jovens no país, ao totalizar a quarta maior causa de mortes entre jovens de 15 a 29 anos.
O estudo indica uma combinação de fatores associados ao comportamento suicida na juventude, como tristeza, desesperança, depressão, ansiedade e baixa autoestima. Além disso, a existência do histórico de experiências adversas ao longo da vivência dos jovens, como abusos físicos e sexuais, falta de amigos e suporte de parentes, discriminação no ambiente escolar, uso de substâncias psicoativas, podem estar associados ao contexto supracitado.
Outro fator de destaque citado pelo boletim se refere às características comportamentais da chamada “geração Z” – nascidos entre 1995 e 2010, com o advento da popularização da internet –, sendo mais suscetíveis aos efeitos do estresse. Em tais indivíduos, observam-se maiores taxas de prevalência de ansiedade, depressão, automutilação e suicídio.
Diante deste grave cenário, é necessário elaborar ações que promovam a saúde mental, o fortalecimento dos fatores de proteção e a redução dos comportamentos de riscos.
A seguir, com base no material da Organização Pan-Americana da saúde (PAHO), apresentaremos exemplos de intervenções preventivas, a fim de promover o bem-estar emocional em diferentes contextos da vivência dos jovens:
- Intervenções psicológicas individuais, on-line, em grupo ou autoguiadas;
- Intervenções focadas na família, como: treinamento de habilidades do cuidador, incluindo intervenções que abordam as necessidades dos cuidadores;
- Intervenções nas escolas, como: mudanças organizacionais para um ambiente psicológico seguro e positivo; ensino sobre saúde mental e habilidades para a vida; treinamento de pessoal para a detecção e o manejo básico do risco de suicídio; e programas escolares de prevenção para adolescentes vulneráveis a condições de saúde mental;
- Intervenções baseadas na comunidade, como: liderança de pares ou programas de orientação;
- Programas de prevenção dirigidos a adolescentes em situação de vulnerabilidade, como aqueles afetados por ambientes humanitários frágeis e grupos minoritários ou discriminados;
- Programas para prevenir e administrar os efeitos da violência sexual em adolescentes;
- Programas multissetoriais de prevenção ao suicídio;
- Intervenções multiníveis para prevenir o abuso de álcool e substâncias;
- Educação sexual integral para ajudar a prevenir comportamentos sexuais de risco; e
- Programas de prevenção à saúde.
Conforme aponta a Organização Mundial da Saúde (OMS), medidas que visam ao bem-estar emocional de adolescentes e jovens evitariam o adoecimento de adultos, assim como reduziriam danos sociais e econômicos. Como preconiza o slogan da campanha Janeiro Branco, “quem cuida da mente, cuida da vida!”, ações de prevenção e cuidado com a saúde mental são necessárias.
Se você é jovem, veja dicas de hábitos saudáveis para incluir no seu dia a dia, visando promover uma rotina mais positiva e o cuidado com a saúde mental:
- Durma bem;
- Alimente-se bem;
- Exercite-se regularmente;
- Reserve um tempo para fazer atividades que você goste: sair com os amigos, assistir a filmes e séries, visitar parque e museus.
Aprenda a identificar suas emoções e procure ajuda sempre que necessário. Na Fundação Mudes, temos o Grupo de Apoio Psicossocial (GAPIS), visando oferecer ações de cunho psicossocial para adolescentes e jovens, inscritos ou não nos programas da Fundação Mudes, a fim de oferecer apoio jurídico e psicológico! Lembre-se, você não está sozinho!