O recrudescimento da população idosa é uma tendência em todo o mundo. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de idosos chegará a 2 bilhões até 2050, representando um quinto da população mundial. O Brasil possui a quinta maior população com indivíduos acima dos 60 anos, isto é, mais de 28 milhões de pessoas, o que significa 13,7% dos habitantes. Estima-se que, em 2030, a referida faixa etária seja maior do que o número de crianças de zero a 14 anos.
Com o aumento da população idosa, acontece, simultaneamente, o crescimento de doenças neurodegenerativas, como o Mal de Alzheimer. Segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz, um em cada três idosos no Brasil tem alguma limitação funcional. O estudo indica que 80% (cerca de 6,5 milhões de pessoas) necessitam do auxílio da família para realizar atividades básicas para a sobrevivência.
O cuidador exerce um papel fundamental na vida dos pacientes acometidos por doenças neurodegenerativa. Com o avanço da patologia, a pessoa responsável pelo cuidado assume diversas responsabilidades relativas ao idoso, desde as finanças até a higiene, o banho e a alimentação.
Geralmente, o cuidador faz parte da família (em sua maioria, do sexo feminino): esposa, filhas e netas dos idosos, tendo, em média, entre 40 e 65 anos. A responsabilidade surge de forma inesperada, sem o cuidador possuir experiência. Tal fato contribui para uma sobrecarga emocional.
O artigo científico intitulado “O impacto da doença de Alzheimer no cuidador” apresenta informações acerca das transformações comportamentais das famílias diante da evolução da doença. No primeiro momento, os familiares não têm efetivo conhecimento sobre o que está ocorrendo com o idoso, ocasionando sentimentos de hostilidade e irritação. Com o surgimento dos primeiros sintomas, o paciente pode ser acometido pela depressão, sobretudo, por não saber lidar com as limitações. A partir do diagnóstico da doença, os familiares podem ter resistência em aceitar o laudo médico. Após a aceitação, pode ocorrer uma sensação de catástrofe. Julga-se importante ressaltar que as famílias podem reagir de maneira diferente.
O artigo aponta três posicionamentos indesejáveis entre os familiares: superproteção, fuga da realidade — ou seja, não reconhecem a existência da patologia —, e expectativas exacerbadas em relação ao desempenho do idoso. Na maior parte dos casos, os parentes que negam a doença são os que mais sofrem; aqueles com maior prevalência aos efeitos do estresse são os que tendem assumir todos os cuidados e abdicam dos seus próprios compromissos.
Normalmente, os familiares vivenciam um duplo luto: o primeiro com o avanço da doença, quando o idoso passa a não reconhecer mais os seus entes queridos; e o segundo quando ocorre sua morte biológica.
Tomando como base o referido trabalho científico, apresentaremos as principais evidências acerca dos efeitos do Alzheimer na saúde mental do cuidador:
- Os cuidadores possuem mais chances de ter sintomas psiquiátricos;
- Enfrentam mais problemas de saúde, sentem-se mais estressados e utilizam mais medicamentos antidepressivos e antipsicóticos. Os principais sintomas são: hipertensão arterial, desordens digestivas, doenças respiratórias, propensão a infecções, depressão, ansiedade e insônia;
- Repercussões significativas na vida afetiva e social.
Por fim, os problemas enfrentados pelos cuidadores deveriam fazer parte do tratamento do Mal de Alzheimer, visto o suporte essencial oferecido aos idosos. Assim, julga-se necessário o investimento na formação dos profissionais da Saúde, no estudo de medidas preventivas, no fortalecimento de espaços que visam oferecer o suporte psicológico e orientações sobre a doença.