Novembro é marcado por inúmeras ações que visam analisar os impactos da desigualdade racial e o racismo presente na sociedade brasileira. Em 20 de novembro, celebra-se o “Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra”.
A data foi instituída pela Lei 12.519, de 10 de novembro de 2011 como referência ao dia da morte de Zumbi dos Palmares (20 de novembro de 1695), líder do Quilombo dos Palmares – localizado entre os Estados de Alagoas e Pernambuco, região Nordeste do país.
Zumbi foi assassinado por lutar pela liberdade de culto e religião, e por liderar um dos principais movimentos de libertação de descendentes africanos escravizados à época. É considerado o maior símbolo da luta pela liberdade da população negra na história do país. Seu exemplo de resistência é seguido por todos os que almejam a construção de uma sociedade mais igualitária e rica em diversidade racial.
O processo histórico de construção do país tem as desigualdades raciais e o racismo como principais pilares de sustentação do Estado, oriundo da colonização dos povos originários e africanos, repercutindo significativamente nas relações sociais, econômicas e corporativas.
Segundo estudo realizado pela CEGOS, empresa especializada no ramo de treinamento e desenvolvimento, 75% das empresas brasileiras apontam o racismo como principal forma de discriminação no ambiente de trabalho. Ao redor do mundo, 82% dos entrevistados relataram já ter presenciado algum tipo de discriminação.
A experiência de desconforto produzida pelo racismo pode aparecer antes mesmo da contratação. Pesquisa desenvolvida pelo Movimento Potências Negras, em parceria com Shopper Experience (2022), com 812 mulheres negras, apontou que 63% delas já sofreram discriminação durante processos seletivos.
De acordo com pesquisa do Instituto Ethos, 4,7% dos cargos de liderança nas 500 maiores empresas brasileiras são ocupados pela população negra no Brasil. Quando se faz o recorte de gênero, percebe-se que as mulheres negras representam somente 9,3% dos quadros das companhias e ocupam apenas 0,4% dos altos cargos. Por outra ótica, conforme levantamento publicado no site de recrutamento “Vagas.com”, por meio da análise do perfil étnico-racial das pessoas cadastradas no site, os negros só são a maioria em posições operacionais e técnicas; ao passo que o quantitativo é reduzido em cargos de suporte, média e alta gestão. Diante de tais dados, julga-se importante provocar reflexões sobre os motivos que contribuem para a existência do contexto de racismo no ambiente de trabalho e os impactos produzidos na saúde mental dos trabalhadores.
A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (instituída pela Portaria n° 992, de 13 de maio de 2009, do Ministério da Saúde) reconhece o racismo, as desigualdades étnico-raciais e o racismo institucional como determinantes sociais das condições de saúde. Desta forma, o racismo estrutural presente na sociedade brasileira está relacionado com o sofrimento psíquico da população negra, pois situações de discriminação podem desencadear o surgimento de doenças e transtornos psicológicos, como ansiedade, depressão e Burnout.
Tomando como base o guia produzido pela psicóloga e especialista em Gestão de Recursos Humanos, Mayara Gonçalves, e o jornalista e estudioso das relações raciais, Davi Akintolá, publicado em reportagem do site UOL, elaborado a partir da vivência dos profissionais e pela observação de tratamentos oferecidos aos colaboradores brancos e negros, os principais pontos que auxiliam a perceber a identificação do racismo no ambiente corporativo são:
- Descredibilização: o questionamento não vem em relação ao trabalho, mas sim em relação à pessoa. O ataque é pessoal;
- Policiamento de tom: o que você diz é muito importante, mas não pode ser dito “desta forma”;
- Apagamento: você tem espaço para falar, mas, após a sua fala, todas as pessoas fazem silêncio e mudam de assunto;
- Salvacionismo branco: a exigência de uma gratidão despropositada, como se a sua competência e o seu trabalho não justificassem a sua permanência e o seu salário;
- Dois pesos e duas medidas: a régua da tolerância ao erro diminui. Os requisitos para promoção aumentam;
- Reconhecimento vazio: você é incrível, mas sem aumento, sem promoção, sem avanço na carreira;
- Sua entrega nunca é suficiente: nem mesmo quando alcança a meta. Nesse caso, não a alcançou como deveria;
- Inclusão simbólica: ser o único naquele espaço. Isolamento dos seus pares;
- Esvaziamento da posição: quando finalmente você se senta na cadeira de liderança, o prestígio, o respeito, a autonomia e a autoridade não vêm junto.
Os aspectos apresentados pelos especialistas sobre a temática nos revelam que as práticas corporativas são atravessadas pelas desigualdades presentes na sociedade, as quais contribuem para a produção de uma certa hierarquização entre os grupos sociais, demarcados por relações de gênero, classe e raça. Assim, julga-se necessário a construção de práticas que visem à igualdade racial e à promoção de saúde mental dos colaboradores negros nas empresas, propiciando a diversidade e os respeito às diferenças.
A seguir, seguem dicas que podem ser implementadas nas empresas:
- Elaboração de processos seletivos inclusivos;
- Mudança de cultura nas empresas e ações que incentivem a permanência de pessoas negras;
- Criação de grupos de afinidades étnico-raciais, a fim de promover debates que fomentem a discussão de práticas para a produção de equidade racial;
- Realização de rodas de conversa e palestras que visem abordar a temática das relações étnico-raciais no trabalho;
- Escuta ativa e sensível às questões apresentadas pelos colaboradores negros, com a intenção de dirimir os principais efeitos psicossociais das desigualdades raciais no ambiente de trabalho.