Abril é marcado pela campanha mundial de conscientização sobre o Autismo: Abril Azul. Neste ano, o tema é “mais informação, menos preconceito”.
A Organização das Nações Unidas (ONU) criou a data, em 2007, para promover reflexões acerca do assunto. No Brasil, a Lei 13.652/2018 instituiu a celebração no contexto nacional. Durante abril, são desenvolvidas ações para reduzir a discriminação e o preconceito, bem como propagar informações qualificadas sobre o tema.
Conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), organizado pela American Psychiatric Association, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) se caracteriza como um transtorno do neurodesenvolvimento, que pode afetar a comunicação e a interação social do indivíduo, em associação a padrões de comportamentos, interesses ou de atividades restritos e repetitivos.
Outras características presentes em pessoas diagnosticadas com TEA abarcam rotinas rígidas, excesso de estímulos sensoriais e limitações em identificar e regular suas emoções. Estes comportamentos podem ser, inicialmente, observados na primeira infância. O transtorno pode ter origem em causas genéticas e ambientais.
O DSM-5 preconiza como terminologia oficial “Transtorno do Espectro Autista”, pois engloba sintomas identificados no autismo, como o Autismo Clássico e o Transtorno de Asperger. Os indícios do TEA podem modificar conforme a gravidade e o nível de desenvolvimento.
Confira alguns dos principais critérios clínicos e sintomas do transtorno segundo o DSM-5:
- Déficits persistentes na comunicação e interação social em múltiplos contextos;
- Déficits na reciprocidade socioemocional; dificuldade para estabelecer uma conversa normal; compartilhamento reduzido de interesses, emoções ou afeto; dificuldade para iniciar ou responder a interações sociais;
- Movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados, ou repetitivos (p. ex., estereotipias motoras simples, alinhar brinquedos ou girar objetos, ecolalia, frases idiossincráticas);
- Insistência nas mesmas coisas, adesão inflexível à rotina ou a padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal (p. ex., sofrimento extremo em relação a pequenas mudanças, dificuldades com transições, padrões rígidos de pensamento, rituais de saudação, necessidade de fazer o mesmo caminho ou ingerir os mesmos alimentos diariamente);
- Hiper-reatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente (p. ex., indiferença aparente à dor/temperatura, reação contrária a sons ou texturas específicas, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, fascinação visual por luzes ou movimento).
O DSM-5 identifica as pessoas com o diagnóstico do TEA em três níveis, tomando como base a intensidade dos sintomas e quanto de apoio os sujeitos precisam para realizar as suas atividades no dia a dia. Dessa forma, indivíduos com gravidade nível 1 precisam de menos apoio do que uma pessoa com o mesmo diagnóstico, mas com gravidade nível 3, por exemplo.
Estima-se que uma a cada 36 crianças com menos de 8 anos tenha o diagnóstico do TEA, segundo estudo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, realizado em março de 2023. A tendência na identificação de novos casos é de alta, ao se comparar com dados de outros levantamentos: em 2020, a prevalência era de 1 caso para 54 crianças; ao passo que, em 2006, era de 1 em 150. No Brasil, não existem trabalhos epidemiológicos ou estudos similares.
Segundo reportagem do Portal G1, especialistas apontam algumas hipóteses para a intensificação do surgimento de novos casos nos últimos anos:
- Maior acesso da população aos serviços de diagnóstico;
- Maior conscientização de pais, professores e pediatras, pois possuem informações para identificação dos primeiros sintomas de forma célere;
- Ampliação da compreensão do que é autismo;
- Possíveis fatores ambientais que colaboram para a maior frequência do TEA. A matéria indica que alguns deles já são consensuais, como idade mais avançada do pai e/ou da mãe; uso de determinados medicamentos durante a gestação (como valproato de sódio, que trata a epilepsia); estresse gestacional.
Tratamento
O artigo científico intitulado “Transtorno do Espectro Autista: caminhos para o diagnóstico” indica que o tratamento para o TEA deve ocorrer de forma multidisciplinar, tendo uma equipe formada por profissionais de diversas especialidades — médicos, psiquiatras ou neurologistas, psicólogos que atuam nas áreas de Análise do Comportamento Aplicada (ABA) ou Terapia Cognitivo-Comportamental —, psicopedagogos e professores com especialização em inclusão escolar, fonoaudiólogos especialistas em TEA, terapeutas ocupacionais com certificação em Integração Sensorial (IS) de Ayres, nutricionistas, educadores físicos e fisioterapeutas especialistas em TEA.
É fundamental que a família conheça sobre o transtorno, realizando cursos e treinamentos de pais. Tais estratégias são imprescindíveis para avaliar a evolução do processo terapêutico, favorecendo também o treinamento contínuo nas atividades cotidianas.
Por fim, o tratamento do TEA deve considerar as singularidades de cada paciente, visando alcançar a autonomia e melhorias na qualidade de vida dos sujeitos e consequentemente da sua família.